Entrevista realizada por: Maria Elizabeth Silva de Brito, Maria Paula Pereira de Carvalho, Sarah Narranna dos Santos (Letras - UFPB)
1) Professora Erica, toda jornada acadêmica possui suas peculiaridades, com desafios e conquistas. Você poderia nos contar um pouco de como iniciou essa trajetória e quais acontecimentos fizeram com que você escolhesse a Psicolinguística como área de atuação?
Comecei minha jornada acadêmica, no final da década de 80, como aluna de iniciação científica. Eu fazia o curso de Letras – habilitação Português-Literaturas de Língua Portuguesa - e recebi um convite da profa. Maria Helena Marques para trabalhar com pesquisa no projeto NURC – Norma Urbana Oral Culta, na área de Léxico. Foi uma experiência muito importante e um período de muito aprendizado. Trabalhei fazendo revisão de transcrições de gravações e classificação dos itens vocabulares de uma área temática do NURC, a área de “Dinheiro, banco, finanças”. Na universidade, sempre me interessei pelas disciplinas de Linguística, principalmente pelas que se voltavam para análise de estrutura linguística. A abordagem biolinguística (na época, ainda não conhecia essa terminologia) dos fenômenos linguísticos me capturou de imediato. Na ocasião, não havia disciplina de Psicolinguística na graduação da UFRJ. Meu contato com a visão cognitiva de língua veio via uma disciplina de linguística gerativa. Quando concluí a graduação, optei por fazer o Mestrado direto. Minha intenção inicial era continuar na UFRJ, mas conheci o Programa de Letras da PUC-Rio e achei que tinham uma proposta interessante. Inicialmente pensei em trabalhar com Sociolinguística, dando prosseguimento aos estudos da iniciação científica, mas logo no primeiro período conheci a área de Psicolinguística, em disciplina oferecida pela profa. Letícia Maria Sicuro Corrêa, que veio a se tornar minha orientadora de Mestrado e de Doutorado. A possibilidade de investigar os processos mentais, de entender como produzimos e compreendemos linguagem em tempo real e de buscar explicação para os casos de comprometimento linguístico ou mesmo para dificuldades no uso da linguagem me fascinaram e determinaram minha orientação como pesquisadora.
2) Quais os conceitos indispensáveis para se entender a Psicolinguística, seus alcances e seus limites dentro dos estudos sobre a linguagem humana?
Para responder a esta pergunta, entendo ser necessário primeiramente tecer uma breve consideração sobre o lugar que a Psicolinguística ocupa no âmbito das chamadas Ciências Cognitivas, sua relação com a Linguística e com a Neurolinguística ou Neurociências da Linguagem. Nem sempre as fronteiras entre essas disciplinas são claramente definidas e pode-se cair numa visão reducionista, segundo a qual a Psicolinguística é uma área de testagem de hipóteses linguísticas, uma área que realiza experimentos mas que não tem teorias próprias, o que é completamente equivocado e descabido. É necessário entender qual o objeto de estudo de cada área e identificar possíveis interfaces. Nesse cenário complexo, considero que são conceitos fundamentais na investigação do processamento linguístico os de modularidade da mente, especificidade de domínio, representação mental, processamento simbólico, processamento serial e paralelo, entre outros.
3) A Psicolinguística surge com a união da Psicologia e da Linguística, convergindo para compreender os processos que ocorrem na comunicação humana, no processamento e na aquisição da linguagem. De que forma essa junção contribui em estudos de casos patológicos, associados à comunicação?
A Teoria Linguística Gerativista provê modelos formais de como está estruturado o conhecimento linguístico, de como a criança chega a esse conhecimento e de como a linguagem se relaciona com os outros sistemas da mente/cérebro. A Psicologia busca caracterizar os processos perceptuais e cognitivos envolvidos em diferentes tipos de tarefas, fazendo uso, para isso, de metodologia experimental. A Psicolinguística, que surge da junção dessas duas áreas, tem como objetivo explicitar os procedimentos implementados em tempo real na produção e na compreensão de enunciados linguísticos; busca explicar como o conhecimento linguístico é ativado e manipulado no curso do processamento linguístico, quais os custos que diferentes estruturas linguísticas podem representar em termos de recursos de memória, por exemplo. No estudo de casos patológicos, a Psicolinguística pode ajudar a compreender que áreas da linguagem estão comprometidas, se o que está comprometido é exclusivamente de natureza linguística ou se há outros componentes cognitivos que podem ter sido afetados pela patologia, se os problemas se manifestam tanto na fala como na escrita, se tanto processos de produção quanto de compreensão apresentam falhas, etc. É possível identificar o que está comprometido a partir tanto de testes que busquem isolar os aspectos da linguagem que estão mais diretamente afetados, que avaliem se o problema está relacionado a uma questão de acesso ou de recuperação de informação linguística, que identifiquem as estruturas/operações que representam maior demanda/dificuldade para os indivíduos com comprometimentos da/na linguagem.
4) Que possibilidades ou métodos a Psicolinguística traz para identificar fatores que dificultem a decodificação linguística?
A Psicolinguística faz uso tanto de técnicas off-line quanto de técnicas on-line na investigação dos processos de decodificação linguística. As técnicas off-line são relevantes para avaliar o resultado do processamento, em especial aspectos associados à interpretação do que está sendo dito/lido, e já envolvem algum nível de reflexão. Por exemplo, na investigação de como as pessoas processam sentenças ambíguas, é possível identificar preferências de leitura a partir de estudos de questionário. Assim, dada uma sentença ambígua como “O diretor elogiou a irmã do rapaz que estava fazendo trabalho voluntário em uma ONG.”, é possível verificar se os falantes têm uma preferência em concatenar a oração relativa “que estava fazendo trabalho voluntário em uma ONG” ao SN “irmã” ou ao SN “colega”. As técnicas on-line, por sua vez, conseguem capturar o que ocorre no momento do processamento, com dados temporais em ms. A leitura auto-monitorada é um exemplo de técnica desse tipo. Nessa técnica, palavras ou sintagmas são visualizados incrementalmente na tela de um computador e a apresentação de cada elemento é realizada, pelo próprio participante, a partir do pressionar de uma tecla do computador. Assim, na frase acima, caso a apresentação seja feita palavra a palavra, primeiro o participante veria a palavra “O”, em seguida, após pressionar a tecla, veria “diretor” e assim por diante até concluir a frase. Nesse tipo de técnica, o tempo (em ms.) que o participante leva para pressionar a tecla é tomado como a variável dependente do experimento e permite investigar o que acontece em nível não consciente/automático durante o processamento em tempo real. Para verificar qual a análise inicial realizada pelo parser quando há duas possibilidades de concatenação – como é o caso da sentença acima - em geral manipula-se alguma informação de modo a gerar um efeito de estranhamento, a depender da estrutura construída. Por exemplo, na frase “O diretor elogiou a irmã do rapaz que ganhou o prêmio de melhor...”, pode-se manipular a continuidade da sentença, usando uma adjetivo no feminino (funcionária da firma) ou no masculino (funcionário da firma). Caso o participante tenha concatenado a oração adjetiva com “rapaz”, seguindo um princípio de parsing conhecido na literatura psicolinguística como Late Closure, ele possivelmente irá estranhar o adjetivo no feminino e esse estranhamento será indicado por um tempo maior de leitura. Nesse caso, certamente um procedimento de reanálise será realizado, de modo a que a oração possa ser concatenada com “irmã”, que, nesse caso, seria a única possibilidade congruente com o gênero do adjetivo. Outra técnica bastante empregada na investigação do processamento on-line é a de rastreamento ocular. A partir de equipamentos (eye-trackers) que conseguem capturar onde estão posicionados os olhos durante a visualização de uma imagem ou da leitura de uma sentença, é também possível identificar estruturas que podem representar custo para o processamento. Nesse caso, número e duração de fixações num dado ponto da sentença podem, entre outros movimentos oculares, ser tomados como indicativos de custo cognitivo no processamento, e movimentos regressivos podem ser associados a processos de reanálise, por exemplo.
5) As articulações teóricas pensadas no início da Psicolinguística ainda são aplicáveis nos dias atuais, se sim, com quais mudanças?
Imagino que a pergunta se refira à relação entre Teoria Gerativa e Psicolinguística nos anos 60, com a chamada Teoria da Complexidade Derivacional (DTC – Derivational Theory of Complexity), em que se buscou estabelecer uma relação entre os passos envolvidos na derivação de uma sentença e as operações mentais no processamento linguístico. A proposta era de que quanto maior a complexidade das transformações descritas pela teoria linguística maior o custo cognitivo para o processamento, o que poderia ser mensurado a partir de testes comportamentais:
“The psychological plausibility of a transformational model of the language user would be strengthened, of course, if it could be shown that our performance on tasks requiring an appreciation of the structure of transformed sentences is some function of the nature, number, and complexity of the grammatical transformations involved.” (Miller Chomsky, 1963, p. 481).
A maior parte dos autores que se refere a esse período considera que os estudos experimentais da época apresentaram evidências para a realidade psicológica das representações sintáticas propostas pelos gerativistas, mas não para as operações transformacionais. Observou-se, assim, gradativamente um certo afastamento entre as duas áreas. No entanto, pode-se afirmar que a tentativa de identificar custos específicos associados a certas estruturas linguísticas ou processos isso se mantém, como resume Phillips (2013, p.4):
“It seems that the DTC, as tested, was never a particularly sensible linking hypothesis, if it was taken to imply that transformational operations should not merely contribute to perceptual complexity, but should be the primary contributor to perceptual complexity. Tellingly, there is little evidence of a struggle to defend this idea against the supposed counterarguments in the late 1960s, suggesting that people simply did not find DTC to be very useful, and so moved on to work on other things instead. Nowadays the basic idea behind DTC is alive and well, but rather than seeking ways of capturing the aggregate processing demands for a sentence, researchers more commonly seek to identify the specific costs of individual elements or processes, such as wh-dependency formation (Kaan et al. 2000, Phillips, Kazanina & Abada 2005), complement coercion (McElree et al. 2001; Traxler et al. 2002; Baggio et al. 2010; Kuperberg et al. 2010), or ellipsis resolution (Martin & McElree 2008).”
(Phillips, C. (2013). Parser-grammar relations: We don’t understand everything twice. In: Sanz, M., Laka, I., Tanenhaus, M. K. (Eds.). Language down the Garden path: the cognitive and biological basis for linguistic structure. (Papers in honor of' Thomas G. Bever). Oxford University Press)
6) Atualmente, tendo em vista os grandes avanços relacionados à aquisição da linguagem, o processamento e a cognição, quais as contribuições da Psicolinguística na interface com a educação?
A pergunta é muito ampla e certamente as contribuições são de várias ordens. Acho que, de forma mais geral, a grande contribuição da Psicolinguística para a Educação é o foco nos aspectos processuais. Por exemplo, no caso da leitura, pesquisas com rastreadores oculares têm permitido que possamos enxergar o que se passa no momento em que uma pessoa está lendo um texto, em que pontos do texto a pessoa para, que trechos do texto parecem requerer maior atenção, o que representa maior demanda cognitiva e quais as estratégias que leitores com diferentes níveis de expertise lançam mão nesse processo. De modo similar, nos estudos de produção, ao invés de examinar apenas o produto final, as pesquisas em psicolinguística têm permitido que se observe o que ocorre durante o processo de escrita. Para isso, contribuem programas de keylogger, que permitem capturar todos os movimentos de teclado durante uma atividade de escrita no computador, bem como informação sobre o curso temporal desse processo, incluindo dados sobre pausas. Esse tipo de dado permite que se possa fazer uma espécie de diagnóstico das principais fontes de dificuldades dos alunos e se traçar um trabalho de intervenção junto aos alunos. Em relação à aquisição, certamente as informações sobre o que acontece com a criança antes mesmo de ela ser capaz de produzir os primeiros enunciados pode ser muito relevante para o trabalho realizado em creches, com impacto na educação infantil.
7) Quais dificuldades metodológicas um pesquisador da área da Psicolinguística pode encontrar no desenvolvimento de seus estudos?
Em termos propriamente de dificuldades metodológicas, entendo que é sempre um desafio controlar determinados fatores – por exemplo, frequência dos itens lexicais usados em um experimento de compreensão de sentença. Não temos bancos de frequência que possam ser usados facilmente e isso dificulta muitas vezes a seleção adequada de itens lexicais. Outra dificuldade é muitas vezes conseguir “disfarçar” o que se está testando: dependendo do tipo de fenômeno investigado, podem ser necessários muitos itens distratores, o que pode tornar o experimento longo, cansativo. No caso dos estudos de produção, a grande dificuldade está na eliciação das estruturas. Por mais bem desenhado que seja o experimento, nem sempre o participante se comporta como esperado. Costumo brincar que o problema dos experimentos de produção é que às vezes os participantes são rebeldes e não fazem o que queremos com a tarefa. Um outro ponto que gostaria de abordar diz respeito à validade ecológica dos métodos empregados. Esta é, a meu ver, uma questão a ser enfrentada na área. Algumas técnicas ainda tornam a atividade linguística muito distante das situações naturais de produção e isso pode colocar em discussão a possibilidade de os resultados obtidos serem generalizados para situações de “vida real”. Nesse sentido, técnicas com a do rastreamento ocular podem aproximar mais a atividade de uma situação usual de leitura no computador, por exemplo.
8) Sabendo que uma criança, em sua fase de aprendizagem, compreende ações e reações através da convivência em sociedade, como sucede, a partir de pesquisas feitas em sua área, para essa criança processar uma língua?
Não estou certa se entendi bem o ponto da pergunta, mas certamente, mesmo uma teoria de base fortemente inatista não nega o papel que o input linguístico (via interação com membros da comunidade linguística) tem no processo de aquisição da linguagem. No caso dos estudos psicolinguísticos, a questão central a meu ver é buscar explicar como a criança extrai informação linguística das interfaces e vai gradativamente identificando os elementos que são específicos da sua língua e como se estruturam. Nesse sentido, tem sido muito importante o emprego de técnicas experimentais que permitem investigar habilidades perceptuais de bebês e de crianças bem pequenas, como a Sucção Não-Nutritiva (High-Amplitude Sucking - HAS) e a Escuta Preferencial (Head-Turn Preference Procedure- HPP). Com o emprego dessas técnicas, tem-se avançado muito no sentido de descobrir o que a criança já sabe de sua língua mesmo antes de ser capaz de produzir enunciados mais complexos
9)Quais considerações você poderia fazer a um iniciante interessado na área da Psicolinguística?
Eu diria que é preciso, antes de qualquer coisa, ser curioso e engenhoso. O que investigamos na área – as representações e operações mentais subjacentes às atividades linguísticas – não é algo que está diretamente acessível; é necessário formular hipóteses e imaginar formas de, a partir de meios indiretos (como respostas comportamentais), buscar evidências para nossas hipóteses. Nem sempre temos os recursos/equipamentos mais sofisticados, mas, a depender do que se esteja investigando, com criatividade e engenho, é possível buscar recursos/métodos alternativos para conduzir a pesquisa (em especial no Brasil, em que as verbas para a área de Linguística são restritas). É necessário também ser muito cuidadoso e meticuloso, quase obsessivo, para poder elaborar estímulos que estejam de acordo com os fatores que desejamos manipular. É preciso ser muito estudioso e sempre estar atento à literatura na área, aos resultados de trabalhos no seu tema de investigação. É necessário não ter medo de matemática básica, de estatística. É preciso também ser teimoso, não desistir de uma investigação em função de algum tipo de dificuldade. É preciso ser ético, deixar claro para o participante o que se vai fazer e como se vai fazer, com que objetivo, etc.
10) No artigo Efeitos de distância linear e marcação no processamento da concordância verbal variável no PB é analisada a influência na concordância numa oração, quando o verbo e o sujeito estão distantes, por exemplo. Uma situação semelhante a esta: “O livro das imagens queimaram”, assim, o verbo próximo a "imagens" é colocado no plural. Como a Psicolinguística pode nos explicar o que ocorre nessas situações?
Temos nesse exemplo um caso claro de lapso, de falha e não um caso de concordância variável na língua (que seria algo como “Os livro das imagem queimou...). Na sentença “O livro das imagens na quarta prateleira da estante da biblioteca queimaram”, uma possível explicação é que pelo fato de o núcleo do sujeito ser singular, isto é, não-marcado, e estar separado do verbo por um número expressivo de elementos levaria a um esvaecimento dessa informação da memória de trabalho e a concordância seria estabelecida com o elemento plural/marcado, modificador do núcleo. Um outro caso de lapso também bastante comum é o que envolve sintagmas que podem receber uma leitura distributiva, como “A fechadura das portas estragaram”. Nesse caso, embora o núcleo do sujeito seja também singular, o número conceitual pode ser interpretado como plural, pois o sintagma admite uma leitura em que haveria varias portas, cada uma com uma fechadura, e essas fechaduras estragaram. Para uma explicação mais detalhada desses tipos de lapsos de concordância, sugiro a leitura de minha tese de doutorado e também de pesquisas de orientandos:
- Erica dos Santos Rodrigues. Processamento da concordância de número entre sujeito e verbo na produção de sentenças. 2006. Tese – Programa de Pós-Graduação em Letras – PUC-Rio.
- Igor de Oliveira Costa. Verbos meteorológicos no plural em orações relativas do Português Brasileiro: sintaxe e processamento. 2013. Dissertação – PPGEL, PUC-Rio (coorientação da profa. Marina R. A. Augusto)
- Débora Ribeiro de Almeida. Processamento da concordância de gênero e número em estruturas predicativas. 2016. Dissertação – PPGEL, PUC-Rio
11) A Psicolinguística trata os lapsos de fala como uma “falha” em alguma das etapas do processamento linguístico de um falante, entretanto, Freud as observa sob um viés Psicanalítico. Há algum tipo de articulação possível entre essas duas abordagens?
É muito interessante lembrar que Freud, no livro “Sobre a psicopatologia da vida cotidiana”, faz referência explícita ao trabalho de Meringer & Mayer (1895) que realizaram um extenso estudo sobre lapsos de fala em língua alemã. Não acho que se possa estabelecer propriamente uma articulação entre as duas abordagens, mas seguramente muitos dos chamados atos falhos de Freud poderiam receber uma interpretação alternativa à luz da Psicolinguística, sendo explicados a partir de modelos de representação e acesso de palavras no léxico mental. Como Victoria Fromkin mostrou na década de70, com o livro “Speech errors as linguistic evidence”, os lapsos de fala apresentam uma certa regularidade, incidem sobre determinadas unidades linguísticas e podem ser tomados como informativos sobre o sistema de produção da fala. Assim, certamente as trocas que ocorrem nos chamados atos falhos envolvem categorias linguísticas e operações específicas.
12) Professora, percebemos que além de estudos em processamento linguístico, você atua também na interface com questões da área de Educação, gostaríamos que você destacasse algum resultado ou estudo seu nessa interface e a potencial contribuição em termos de ensino-aprendizagem.
Uma das minhas áreas de pesquisa é exatamente nesta interface. No âmbito do meu projeto “Aspectos cognitivos e metacognitivos da leitura e da escrita” tenho duas frentes de investigação: uma voltada para questões de compreensão multimodal, em que busco examinar, com base em dados de rastreamento ocular, como se dá a integração entre informação linguística e visual no processo de leitura de gráficos, e outra, voltada para o processamento da escrita, em que examino o processo de produção textual em tempo real, a partir de dados obtidos por meio do Inputlog, um programa de keylogging que permite capturar todos os eventos do teclado (cada informação digitada, apagada, incluída, etc.), juntamente com dados de natureza temporal como número e duração de pausas. No primeiro caso, a pesquisa está em estreita interface com a área de Educação Matemática, mais precisamente de Letramento Estatístico. Temos explorado tanto fatores de natureza top-down como bottom-up que afetam o processo de leitura de gráficos de diferentes tipos. Algumas reflexões e resultados dessa pesquisa podem ser lidas no cap. “Compreensão multimodal e rastreamento ocular na leitura de gráficos”, de Rodrigues, Fragoso & Ribeiro, publicado em 2018 no livro Psicolinguística e Educação (Editora Mercado de Letras), organizado pelo prof. Marcus Maia. Em relação às pesquisas sobre escrita, nosso foco no momento tem sido em alunos universitários que apresentam dificuldades na elaboração de textos. Temos trabalhado com alunos que são atendidos no Núcleo de Orientação e Atendimento Psicopedagógico – NOAP, um dos núcleos da RAE – Rede de Apoio ao Estudante, da PUC-Rio. A proposta desse trabalho é buscar mapear quais são as principais fontes de dificuldades em escrita desses alunos no curso da escritura e propor estratégias de intervenção que lhes permitam desenvolver suas habilidades de escrita. O diferencial desse trabalho é que o foco não é no produto final e sim, no processo. Isso muda completamente a perspectiva de análise do texto do aluno, pois nem sempre o que aparece (ou não aparece) no produto final é revelador do que pode representar custo cognitivo para o aluno na atividade de escrita. Quem tiver interesse de conhecer um pouco mais de perto essa perspectiva processual da escrita pode ler o cap. “A escrita como processo”, publicado, em 2019, no livro Interface linguagem e cognição: contribuições da Psicolinguística (Editora Copiart), organizado pelas professoras Mailce Borges Mota e Cristina Name.
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Agradecemos à professora Drª. Erica Santos pela disponibilidade em responder nossas perguntas.
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